sexta-feira, 28 de maio de 2010

Todos sabem há décadas que Israel tem arma nuclear, diz historiador

MARCELO NINIO


DE JERUSALÉM

Toda nova informação sobre o suposto programa nuclear de Israel desperta enorme interesse, dada a ambiguidade que envolve o tema. Não foi diferente com a notícia divulgada nesta semana, de que em 1975 o ministro da Defesa israelense, Shimon Peres (hoje presidente), teria oferecido armas nucleares ao regime do apartheid sul-africano.

A revelação está num livro que consumiu seis anos de pesquisa do historiador americano Sasha Polakow-Suransky, e é considerada uma rara prova do arsenal atômico de Israel --que o país não nega nem admite ter.

Leia abaixo a íntegra da entrevista:

FOLHA - Em que medida os documentos revelados em seu livro comprovam a oferta israelense? Peres negou tudo.

SASHA POLAKOW-SURANSKY - Peres está sendo evasivo. Ele está certo quando diz que sua assinatura não aparece nas minutas das reuniões, mas ela aparece no documento que garante sigilo para esta e outras negociações sobre defesa, quatro dias depois da primeira discussão sobre os mísseis Jericó. Além disso, Peres não negou, pelo que eu saiba, sua presença nessas discussões ou afirmou que os documentos sul-africanos são falsos. Os jornalistas deveriam perguntar a ele se assinou o documento de 3 de abril; se estava presente na reunião ocorrida na Suíça no dia 4 de junho; e se irá revelar documentos oficiais israelenses dessas reuniões para comprovar sua negativa. Até que ele diga sim a esta última questão, podemos assumir que ele esconde algo.

Os documentos mostram acima de qualquer dúvida que o tema dos mísseis Jericó foi discutido em uma série de encontros em 1975, primeiro em 31 de março, depois em 4 de junho. As frases usadas para descrever as ogivas são vagas, o que é comum nesse tipo de negociação.

A confirmação de que o governo sul-africano viu a discussão como uma oferta nuclear explícita está num memorando do chefe do Estado-Maior, R. F. Armstrong, escrita no mesmo dia 31 de março, que detalha as vantagens do sistema de mísseis Jericó para a África do Sul, mas só se os mísseis tivessem ogivas nucleares. É a primeira vez que aparece um documento com a discussão sobre mísseis nucleares em termos concretos.

O memorando Armstrong foi tornado público seis anos atrás e citado num artigo acadêmico escrito por Peter Liberman. Até eu revelar os registros dos encontros de 31 de março e 4 de junho, era difícil contextualizar o memorando. Com os três documentos e o pacto de sigilo do dia 3 de abril assinado por Peres, o quadro fica mais claro. Quando você olha esses documentos juntos, fica muito claro que a possibilidade de a África do Sul comprar mísseis nucleares foi discutida no dia 31 de março e de novo no dia 4 de junho de 1975, quando Peres se encontrou com Pieter Botha [então ministro da Defesa] na Suíça e que essas discussões foram colocadas sob pesado sigilo no dia 3 de abril de 1975. O acordo nunca foi fechado, mas a discussão ocorreu, e o alto escalão sul-africano entendeu a proposta israelense como oferta nuclear.

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Fonte: Folha.com

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