A partir de hoje publicaremos toda semana um artigo tecnico sobre o vinho,comecando com o artigo "A identidade da Videira"
Usos na identificação de cultivares, proteção intelectual e recuperação de genealogias
Por Luís Fernando Revers
A identificação de cultivares de uva tem sido tradicionalmente baseada na morfologia (ampelografia), analisando-se as características de folhas, tipo de brotos, cachos e tipo de baga, sendo os critérios aceitos para registro e proteção de cultivares pela UPOV (União Internacional para a Proteção de Novas Variedades de Plantas), da qual o Brasil é signatário (IPGRI UPOV OIV, 1997). Atualmente, no entanto, a perícia em ampelografia da videira é restrita a um número pequeno e cada vez menor de especialistas. Além disso, a expressão das características morfológicas é influenciada por fatores ambientais, biologia, histórico de vida da planta, porta-enxerto; e plantas jovens são praticamente impossíveis de se identificar, porque ainda não exibem as características morfológicas típicas de plantas adultas.
Outro fator peculiar à cultura da videira é o número elevado de cultivares utilizadas, estimado em cerca de 10 mil em todo o mundo. Esse fato, aliado a dois fatores - propagação vegetativa e transferência de "mão em mão" entre viticultores - resulta em um número crescente de sinônimos (a mesma cultivar sendo identificada por nomes diferentes), e de homônimos (cultivares diferentes com mesmo nome).

Adicionalmente, em muitos casos, cultivares geneticamente próximas são morfologicamente muito similares e difíceis de diferenciar mediante comparação botânica. Por outro lado, cultivares essencialmente derivadas, ou clones da mesma cultivar resultantes de um processo natural denominado de variação clonal, podem diferir consideravelmente nas suas caracterísitcas morfológicas, mesmo que tenham perfis de DNA praticamente idênticos.
Para contornar as limitações da ampelografia, marcadores moleculares baseados em DNA têm sido utilizados para diferenciar, caracterizar e identificar as cultivares de videira existentes mais plantadas. Apesar de ainda não serem utilizados para registro e proteção de cultivares, exames baseados em DNA possibilitam dirimir dúvidas entre cultivares semelhantes e auxiliam no manejo de coleções de germoplasma. Em outros países, como na Espanha, testes de idenitificação baseados em DNA foram utilizados, inclusive, para resolver problemas de direitos de propriedade intelectual, utilizando amostras coletadas em supermercados e de produtores.
Como é realizado o teste de DNA
Todos os testes baseados em DNA, para finalidades de identificação ou exclusão de paternidade em animais, no homem e em plantas são baseados em segmentos do DNA com seqüências simples repetidas. Devido à sua distribuição regular no genoma das plantas, este tipo de marcador tornou-se amplamente utilizado e adequado para muitas aplicações genéticas, destacando-se os testes de identidade genética, onde há necessidade de discriminação de indivíduos e identificação de parentesco, além de serem os mais utilizados para obtenção de mapas genéticos.
Utilizando este tipo de marcador, as cultivares de videira são identificadas comparando-se o perfil genético de um determinado número de marcadores microssatélites de uma amostra desconhecida de videira, com perfis conhecidos de cultivares de uva, avaliados paralelamente e armazenados em um banco de dados. A identificação pode ser realizada para cultivares de uvas viníferas, cultivares de uvas de mesa, cultivares híbridas, cultivares de uvas americanas e porta-enxertos.
Aplicação e uso prático de testes de DNA na videira
As principais aplicações da metodologia estão na identificação precisa de cultivares de videira, recuperação de genealogias e genotipagem de novas cultivares para auxiliar em processos de proteção intelectual. Consequentemente, estas práticas também podem ser utilizadas em procedimentos modernos de controle nas cadeias produtivas como: rastreabilidade, certificação de mudas por viveristas e de vinhedos, visando atender requisitos de denominações de origem e indicações de procedência controladas.
Adega
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